segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Trechos do meu livro...(*)


Nasce o Expresso em Santiago

Transcorria o ano de 1993. Mesmo morando em Tupã, seguia fazendo jornal para fora, até que um dia, me chega o jornal do famoso Júlio Garcia, a Tribuna de Santiago, talvez o primeiro jornal de Santiago com o qual eu tive contato e o último também, fora o Expresso. Se bem que vários outros jornais aqui da nossa bela terra nasceram com uma certa mãozinha do Expresso, mas essa parte eu conto mais tarde.
Ao fazer o jornal do Júlio Garcia (e como eles, “os júlios”, gostam da comunicação, de fazer jornal, rádio, internet, não é mesmo?) me vi, sem querer, sabendo dos fatos da bela Santiago. Percebi que o veículo poderia ser mais popular e com menos notícias políticas. Mais tarde, soube que seu dono era filiado ao PT. Admiro essa sigla, mas jornalismo e política partidária não combinam muito bem. Pelo menos, eu penso. Mas o Júlio Garcia era dedicado, apaixonado pela escrita. Um lutador. Estava tentando manter o seu jornal.
Essas coisas todas juntadas a minha vontade de sair de Tupã e comandar meu próprio negócio me deram forças e convidei um amigo, o Ronaldo Machado Salles para ser meu sócio, e nos tocamos para Santiago naquele mesmo ano. Meu convite ao jovem se justifica: ele era muito alegre e tinha uma moto CG 125.
Na chegada em Santiago, as indagações.
-O quê? Vocês querem fundar um jornal aqui? Nós já temos o Correio do Povo, Zero Hora, A Razão... Não precisa outro - diziam.
-Sim, queremos que esses jornais sigam servindo à comunidade. Só buscamos implementar o jornal local, forte e atuante - argumentava. Todavia, a aparência não inspirava confiança. Quando eu não andava de táxi com o amigo Ronaldo, estava na sua moto, com aquele cabelo comprido e uma cara aparentando, modéstia à parte, uns 20 anos. O João Lemes era um perfeito moleque. Um guri que não tinha nem dinheiro para pagar um pernoite de hotel e nem para algum jantar ou almoço mais substancial.
Nas vindas para Santiago, vivia pousando em casas de amigos e comendo xisburguer na praça. Depois que recolhia as informações, pegava os 130 km de terra pela 377 que me levariam à Tupã, onde o Semanário me aguardava para ser editado. Depois eu faria o Expresso e retornaria a Santiago na próxima semana e, assim, sucessivamente. Parecia a rotina “Tupã - Cruz Alta - Salto do jacuí - Tupã.” Sim, mas dessa vez não haveria estresse. Afinal, eu aprendera a lidar com esse bruxo. E como!
Me lembro como se fosse hoje. Cheguei na Câmara de Vereadores e encontrei os amigos Paulo Bandeira, assessor de imprensa, Nélson Abreu, Tito Beccon e Vilmar Rosa (vereadores), Olavo Sobrosa, assessor de bancada e tantos outros, que atuavam sobre a batuta do grande presidente Paulo Menges. Agradeço a todos eles pelo apoio e crédito que me atribuíram à primeira vista, mas quem me ajudou, de fato, foram o Paulo Menges e o Paulo Bandeira. Um acreditando no meu trabalho, sendo o primeiro a publicar a resenha legislativa; e o outro até fez matérias para o jornal.
Foi o Paulo Bandeira, grande locutor da Rádio Santiago, quem nos apresentou à Heloísa Pes (Issa), nossa primeira vendedora de propaganda, lá no antigo W Bar, do amigo Édson Lambert (Barnabé). Foi Olavo Sobrosa o primeiro a nos oferecer sua residência para pernoitarmos e foi ele também quem nos levou ao programa Olho Vivo para sermos entrevistados por Jones Diniz, outra figura que admiro muito.
Mais tarde, conheci Itacir Flores, Marco Peixoto, Chicão, Roberto Ornes, Marcelo Brum, Valdir Pinto, Valtenor, Lisandro e Mateus de Almeida, Ayrton Flôres, Éldrio Machado, Leandro Molina, Décio da Costa e tantos outros que me estenderam a mão e colaboraram com o nosso investimento, com a nossa idéia, com a minha família... Obrigado. Vocês também foram responsáveis pela minha jornada e a da minha equipe em favor do jornalismo impresso.

Os primeiros meses de 15 anos
Fazer notícia impressa para Santiago em 1993 era o que se poderia chamar de “faca de dois legumes”. Se por um lado a evidente falta de um jornal local abria a brecha para se instalar, por outro, a ausência desse mesmo jornal local trazia a falta do hábito. Pior: a falta do crédito em um periódico da terra. Justificativa mais que contundente. Foram mais de 20 jornais que fecharam as páginas e as portas antes do Expresso. O que mais aguentou foi O Popular, dirigido pela família Pozo. Atingiu 29 anos. E se não me falha o pensamento, arrisco a dizer que o matutino fechou porque trocou de dono. A pessoa que o comprou ontribuiu para a sua falência quando mudou seu nome, sepultando uma bela história familiar. Mas, enfim, o Expresso nascera abaixo de tempo feio - como diria o tio Valdomiro.
De início, quem comandou a redação, instalada no prédio onde hoje funciona a Padaria Fronteira, foi o meu amigo Rinaldo Lunardi, radialista lá de Tupanciretã, cidade onde eu também seguia atuando em O Semanário. Nesses primeiros meses, minha presença em Santiago era coisa de visitante. Eu vinha apenas uma ou duas vezes ao mês, de ônibus - quando tinha que trazer o jornal - ou tripulando a velha CG 125 pela estrada de terra que separava Tupanciretã da nossa sede.
Nas raras visitas que fazia a Santiago, corria de um lado para outro tentado sintonizar os acontecimentos. Precisava ver quem era quem e, ainda, tentar vender alguma propaganda ou assinatura. Até a entrega do jornal eu fiz. Quando chegava nas residências, o meu disfarce era um boné rente aos olhos. Não que eu não gostasse do ofício. Trabalhar sempre foi minha felicidade. Meu receio era o de ser reconhecido como diretor. Alguém poderia pensar que a empresa fosse só uma ou duas pessoas, o que detonaria uma impressão de fraqueza. As pessoas não gostam de apostar em time fraco. Essa que é a verdade.
Foram tempos muito duros. Em Tupã ficava a família. O Fagner pequeno, a Fernanda recém-nascida e a Suzana enfrentando problemas de toda ordem. Mas havia o conforto de saber que a Suzana, a Sandra e o seu Mário torciam por este obstinado, no qual, poucos acreditavam. Uns, ao me ver oferecendo uma propaganda ou assinatura, diziam: Passe daqui a um ano. Se o jornal sobreviver até lá, eu assino e, quem sabe, até anuncie minha empresa. Essa frase foi dita por tantos, até por Alberto Ritter, dono do antigo supermercado Ritter. Eu não lhe tirava a razão por agir assim. Foram tantos os fracassados antes de nós. Por que um jovem de cabelos compridos iria fazer um jornal dar certo aqui? Hoje, se o seu Alberto fosse vivo, teria compreendido a proposta que lhe fizera e estaria orgulhoso por ter apostado num veículo que revolucionou a imprensa escrita e reensinou muita gente a ler.


A jovem desbravadora
Assim que virou o ano de 1994, acossado pela falta de profissionais que topassem trabalhar no Expresso Ilustrado, pedi ajuda à Sandra Siqueira, minha cunhada que estava em Tupã. Queria que ela assumisse o controle da redação. A Suzana questionou:
-Como é que você vai levar essa menina para Santiago? O que vai ser dela, numa cidade onde não conhece ninguém?
-Vai aprender a ser alguém na vida! - respondi.
E a Sandra veio. Ficou longe da família, da mãe que era doente, dos amigos. Encarou o desafio aos 18 anos de idade. Sua morada acabou sendo a própria sede do jornal. Trabalhava de dia e, à noite, estudava no colégio Professor Isaías. Deslocava-se a pé, do centro até próximo ao trevo e nunca reclamou. Nem de caminhar nem da pressão que sentia frente ao jornal. Quando a viam nos representando em eventos, uma insistente frase sempre vinha à boca da maioria:
-Mas quem está por trás? Ora se uma garota vai ser capaz de conduzir um jornal! Ainda mais em Santiago, uma cidade grande!
Assim, como aparecia gente para ajudar, alguns infames sempre tentavam tirar uma lasquinha, até querendo intimidar a jovem. Mas nada tirava a sua vontade de levar avante a nossa proposta. Lastreada na amizade, no trabalho e na força de vontade, seguiu em frente feito desbravadora numa floresta. Ainda nos primeiros meses, o seu irmão, o Mário Siqueira Júnior (Marinho) veio morar com ela para ajudar no que soubesse. O guri virou jornaleiro, vendedor, cobrador. Mais tarde, a Denise Pithan começou a atuar como vendedora ao lado de Heloísa Pes (Issa). Denise, que havia sido colega da Sandra lá em Tupã, também passou a morar no jornal. Em seguida, outra amiga da Sandra se juntou ao pequeno grupo. Era a Silvana Ribeiro, filha do seu Luiz Ribeiro, hoje vereador em Capão do Cipó.
Toda aquela turma se somou ao trabalho e aos colaboradores da época: Marcelo Brum, Roberto Ornes, Nélson Abreu, Manoel Loureiro - o Tio Maneco -, entre outros. Em seguida, o Leandro Molina. Este entrou na nossa história como um dos primeiros redatores. Hoje, ele atua na Rádio Gaúcha, de Porto Alegre. Depois do Molina veio a Cristiane Salbego (hoje professora). Ela foi a repórter que mais permaneceu no jornal. Foram 9 anos. Só saiu quando se formou professora e resolveu lecionar, seu sonho desde a infância.
Com o passar do tempo, foram surgindo outros colaboradores: Paulo Bandeira (Rádio Santiago), o Éldrio Machado (hoje, relações públicas da prefeitura, na época, dono de uma serigrafia), Ayrton Flôres, Édem de Paula (Iguaçu FM), Lizandro de Almeida... Todos ajudavam de alguma maneira e incentivavam a turma na batalha. Tantos amigos deram apoio à causa jornalística, dentre eles, Aritana, Alan e Bartira de Sá e a grande família Zuliane, da Churrascaria Zuliane. A dona Lenir e seus filhos fizeram amizade com o Marinho e a Sandra e se igualaram aos da família. Até o telefone da churrascaria virou o telefone do Expresso, por pura bondade da dona Lenir. Naquela época, ter uma linha telefônica era coisa rara. A velha CRT não tinha linhas a oferecer nem às novas empresas. Quem quisesse, que alugasse um telefone ou comprasse, pagando muito caro.

(*) 20 Anos de Jornalismo- Autobiografia de um Autodidata.

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