quinta-feira, 23 de julho de 2009

20 anos de Jornalismo


O tinhoso da escola

Estudei tanto que passei num tapa. Logo estava na 2ª série e noutra escola. O Grupo Escolar Zona Norte, agora, em Panambi. Cidade a uns 20 km de Condor, para os lados de Cruz Alta. Que beleza! Lá, a exemplo de quando morei em Capão do Cipó, Condor, continuava apanhando, seja com cinta, com vara de qualquer coisa ou o que a tia visse pela frente. A diferença de estar na nova cidade é me sentir cada vez mais perto da minha amada Cruz Alta, na minha querida Panambi da Tia Elvira, que àquela altura, eu nem tinha vontade de procurar.

A não ser quando o laço era grande lá por casa. Aí eu aparecia lá pela barbearia do tio Milton para me queixar um pouco e assim ganhar uns trocados para comprar lanche na aula, ou bolitas, outra especialidade minha. Todos os dias eu chegava na aula com um saco delas. Jogava e ganhava mais e trocava pela merenda dos outros. Tudo valia. Pão com margarina - complemento raro na minha casa. A gente tinha que passar só uma “sujeirinha” no pão, senão a tia já olhava com cara feia. Também trocava as bolitas por rosquinhas de milho e até por goludices mais finas, como salgadinhos ou merengues rosas, comprados ali no boteco da esquina da escola. Cada merengue custava 30 centavos de cruzeiro.

Quantas vezes eu matei aula para jogar bolitas, bola, soltar pandorga... Eu era o tinhoso da aula. Cantava, contava piada, não voltava do recreio. Até parece que a liberdade que me faltava em casa eu buscava no colégio.

A contragosto da direção e para loucura das professoras. Chegava a ter os braços macetas de ficar por longo tempo com eles erguidos na frente da turma. Castigo pelas bagunças. Mas a leitura e os exercícios da aula eu tirava sempre de letra. O primeiro livro que ganhei, já na segunda série, li tudo de uma vez em sala de aula. Era a linda historinha de uma família muito unida.

Graças ao meu esforço e à facilidade para aprender, passava de ano sempre. Eu só rodei uma vez. A primeira e única. Até porque, depois daquela ocasião, o tio Valdomiro me deu uma tunda e me tirou da aula sob o pretexto de eu não merecê-la. Para ele, eu matava aulas para tomar banho no Fiúza. Olha só. “Fiúza” significa confiança, segurança.

O tio dizia que eu fazia pouco caso da mensalidade da escola particular, paga com dinheiro que a sua empresa, a fábrica de trilhadeiras Ernesto Rehn, destinava ao Colégio Nossa Senhora de Fátima. O conhecido colégio das freiras. Mas nesse colégio eu não matava as aulas.

Eu rodei na 5ª foi em Matemática, disciplina na qual sempre fui um fracasso. Com o fim da possibilidade de ir ao colégio, a tristeza foi tanta, que me deu vontade de pegar a estrada para Cruz Alta a pé mesmo e bater lá na mãe. Mas tive medo. Outra vez agüentei calado.

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