sábado, 25 de julho de 2009

20 anos de Jornalismo


O poste por testemunha

Quando eu fiz 10 anos, ainda antes de ir para o colégio das freiras, o tio comprou uma terreno na vila Fensterseifer. Nós fomos morar na casa que ele próprio construiu. Ele era assim. A exemplo de meu pai, sabia fazer muita coisa. A casa ficava, e está lá até hoje, na rua Anita Garibaldi. Era modesta, de madeira, sem água, nem luz, embora as duas redes passassem bem na frente. O tio nunca quis essa “regalia”.

No seu terreno havia um bom e velho olho d’água e, as velas e os lampiões a querosene eram mais baratos. Eu me indignava. Queria ler de dia, não dava. A tia Otelina era contra a leitura se não fosse a dos cadernos ou livros da aula. À noite, também não dava para ler porque gastava querosene. Eu retrucava. Era metido a facão sem cabo, como ela dizia. Talvez residisse aí a razão para tanta surra. Ninguém quebrava o corincho daquele micuim.
- Eu nem quero mesmo ler à noite. Não sou louco de amanhecer com meu nariz tapado de picumã.

Claro, eu já estava me sentindo mocinho e as vaidades começavam aflorar. O jeito era escapar pé, por pé e ir para baixo do poste da rua. Lia desde gibi até os livros mais complexos para minha idade, desde que tivesse alguma história. Era minha diversão.

A primeira revistinha em quadrinhos que tive nas mãos foi a do Tex, um guarda rural do Texas que se criou com os índios Navajos, o popular Águia da Noite. A primeira história que eu li foi A Vingança dos Tuaregs, mas a coleção iniciou com O Signo da Serpente. Eram textos bem produzidos, com belos desenhos.

Como eu adorava aquele passatempo com as revistinhas. Recordo que depois passei para as coleções Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey, Pateta... Não restou um personagem do Walt Disney que eu não lesse. A maioria da leitura era ali naquele poste, à luz daquela lâmpada. Do poste eu ia para uma cabana feita por mim no meio do matagal.

Eu ficava horas na cabana, negaceando a minha tia. Morria de medo dela, pois quando achava os gibis, ficava furiosa e botava fogo em tudo. Para me torturar mais, me mandava ver as chamas, mas o que ardia mesmo era minha cabeça. Eu ficava vermelho de brabo. Ah, como eu preferiria uma tunda a perder as relíquias! Mas que nada! Em um mês eu já havia juntado outro montão. E ela tornava a esconder, destruir, queimar...

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