quarta-feira, 19 de agosto de 2009

20 anos de Jornalismo

Aprendendo a ser líder

Embora o mais mimoso do chefe fosse o Laerte, eu não ficava muito para trás. Mas meu sistema de agradar o “homem” era fazendo bem o serviço. Chuva ou vento eu estava sempre a postos para sair em mais uma jornada, como de fato fiz numa madrugada qualquer de tempo feio. Eram cinco da matina.

Água que Deus mandava e eu precisava estar no lugar marcado com as trouxas embaixo do braço para a dita viagem. Íamos tirar leitura em Ibirubá. Como todos já sabiam, o Falconi não pegava ninguém em casa.

Era só nos lugares predeterminados. Bueno! Chegou a hora, me arrumei, calcei minhas botinas, peguei um guarda-chuva e me toquei rumo a parada. Depois de 20 minutos chegou o Falconi sozinho. Olhou para os lados, coçou a barba - gesto que ele fazia sempre quando estava brabo -, e perguntou quase gritando.

Cadê o resto da turma? Eu não disse que era para todos me esperar aqui?
- Olha, seu Falconi. Não sei de ninguém. Eu sei de mim
Respondi em tom pacholento.
-Entra aí e vamos atrás desses vagabundos!

Fomos de casa em casa. Quase todos estavam ou recém se aprumando ou dormindo mesmo, como foi o caso do mimoso Laerte, que botou a fuça na janela com o olho inchado e os cabelos feito molinhas de isqueiro, arreganhou as canjicas e disse num sorriso mais amarelo que seus próprios dentes.

Oi, seu Falconi. Veio cedo!
O Falconi, puto da cara, nem falava. Só fungava. Meio forçado conseguiu dizer.
- Por que não foi para o lugar marcado, negrão?
(O Laerte era bem franzininho, mas o Falconi falava no aumentativo quando estava brabo.)
- Ora, seu Falconi, não viu a tormenta?
Respondeu o “Negrão”.

- Mas que tormenta o quê! Como é que o Joãozinho estava lá, firme?
Passei a ser bom exemplo de cumpridor de trato. Mais um ponto se somou a tantos outros que foram vindo de forma semelhante, o que me rendeu elogios ao chefe novo, surpreendentemente ditos pelo Falconi. Assim, quando ele saiu da firma, me tornei líder da turma.

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