quinta-feira, 27 de agosto de 2009

20 Anos de Jornalismo


A vida no pombal da Cohab:
a nossa baixada fluminense

Morando no pequeno apartamento do pombal, distante do centro de Cruz Alta, aprendemos que a vida pode ser boa mesmo sem muitos pertences. O que mais nos maltratava era a distância do centro. Para se deslocar ao trabalho, o ônibus urbano era sagrado. Quando porventura faltava o dinheiro da passagem, ou era fora de horário, o "pé -2" era a solução.


Em uns 40 minutos se chegava ao destino. Cansamos de fazer aquele trajeto. A Suzana, que trabalhava no hospital e depois na telefonia da CEEE, muitas vezes teve que levantar às 5 da matina, se arrumar às pressas e andar todo esse tempo.

Numa ocasião, de tantas idas e vindas para o trabalho da Suzana, um maluco quase nos atropelou. Aquela região sempre foi perigosa por demais. Assaltos, brigas. Era e é até hoje o refúgio dos marginais. Eles só respeitavam quem morava lá, como acontece tradicionalmente na maioria das vilas pobres.


Quando eu saía do Diário Serrano às 3, 4 da manhã, tinha que esperar clarear o dia ou pegar um táxi. O medo de fazer o trajeto a pé me fazia esperar. Medo por mim e pelos que me esperavam em casa.

Ali naquele lugar convivi com todo tipo de gente. Fiz amigos e aprendi a respeitar os bandidos. Eles trocavam tiros, facadas em qualquer lugar. O pombal também era conhecido como a Baixada Fluminense Crioula. Certa madrugada, acordamos com os gritos de uma pobre mãe desesperada porque seu filho fora morto abaixo da nossa janela. Noutra oportunidade, as balas cantaram na soleira da porta. Era uma briga entre traficantes.

Se a gente quisesse viver bem lá, era preciso não ter olhos nem ouvidos para a marginalha. Muitas vezes olhei da janela do apartamento para dentro de outro e vi gente repartindo maconha em blocos, para não dizer em fardos como se fosse alfafa. Embora atuando num jornal, fazia de conta que não via nada, afinal, passava as noites fora de casa, a família precisava ter certeza do meu retorno.

Nenhum comentário: