segunda-feira, 31 de agosto de 2009

20 Anos de Jornalismo


Enfim, dentro de um jornal

Voltando ao período de duas semanas em que fiquei desempregado. Como não foi mais possível trabalhar na empresa que acabara de ser contratada pela CEEE para seguir fazendo a contagem da energia elétrica, fui para casa e fiquei fazendo contato com um e com outro à espera de oportunidades.


O tempo rodava freado e eu pensava no meu primeiro filho, o Fagner, que estava para nascer. E eu, naquela situação vexatória, desempregado. Nunca pensei que os quinze dias sem fazer nada demorassem tanto. Refleti muito e cheguei à conclusão de que não adiantava mais pensar na possibilidade de retornar a fazer leitura. Havia de encontrar outra coisa, mas o quê? Eu não estava nem formado.

Triste, muito triste, aguardava a hora de mudar de ramo de trabalho. Amava o que fazia na leitura e até acreditei não haver mais nada que me rendesse tanta satisfação em termos de ofício. Mas a única coisa previsível na vida, é que ela é imprevisível.


De fato. Ali mesmo, nos apartamentos da Cohab, conheci o Morine, o Vitalino Morine. Chico, para os amigos. Ele foi o meu grande achado, capaz de fazer minha vida dar uma guinada de 180 graus. O destino fizera cumprir sua sentença. Quem diria, o leiturista, pouco a pouco iria virar jornalista.

Chico era o chefe da oficina lá do Diário Serrano e precisava de alguém para gravar chapas, aquelas de alumínio que retêm a imagem do jornal e que, posteriormente, vão para a máquina impressora para, enfim, ser rodado o jornal. Lá me fui fazer um teste.
-Terá que pôr a mão na graxa, Joãozinho! Me disse ele.
- Claro, eu coloco a mão na graxa, na tinta, até no fogo se for preciso. Falei, dando a entender que topava qualquer parada. E topei.
Iniciei minha escalada jornalística numa sala escura, onde eram gravadas as chapas para a impressão do Diário Serrano.
Depois que me vi num novo posto de trabalho, me realizei. Me senti útil de novo.


Nada iria atrapalhar minha jornada. Nada iria me fazer desistir ou perder o emprego. Não tinha de canseira, de estar indisposto ou até mesmo doente. Quando chegava a hora lá estava eu em meu posto. Numa noite precisei extrair um dente. Minha boca inflamou, sangrou. Meu travesseiro ficou manchado.


Ao ver aquilo a Su pediu que não fosse para o serviço. Os químicos usados para revelar chapas iriam piorar o quadro. Saltei de sopetão e disse que iria de qualquer jeito. Falhar serviço nunca foi meu forte. Até porque, era novato na empresa e também não queria deixar mal os meus colegas. Me fui. Entre uma revelação e outra ia ao banheiro cuspir o sangue. Não me orgulho dessa proeza contra minha saúde, mas me orgulho da minha determinação e dedicação ao trabalho.

Em menos de dois anos eu já havia passado por todos os setores da oficina do jornal. Da gravação de chapas fui para o fotolito, depois para a montagem de página, onde mais me identifiquei. Esse servicinho divertido faço até hoje, só que agora é no computador. Antes era só na tesoura, na cola.


Criei tanta habilidade que cheguei a montar 15 páginas numa tarde. Parece pouco? Não, não era. Meu único colega na montagem havia feito só uma. Hoje eu monto umas 40 em dois dias, mas tenho o auxílio da máquina e meus dedos não ficam mais pegajosos de tanta cola.

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