quinta-feira, 10 de setembro de 2009

20 Anos de Jornalismo

A (quase) queda de um homem
(do meu livro)

O jornal em Salto do Jacuí ia bem. Não dava muito lucro, mas eu me divertia escrevendo as reportagens. Lógico, eu queria mesmo era aprender na prática o que não pude buscar na faculdade. Cada entrevista com médicos, engenheiros, eletrotécnicos, veterinários, advogados, professores era uma lição.

Minha memória era tão eficaz, que muitas vezes anotava toda a conversa e, quando ia redigir a notícia, só olhava no rascunho para ter a certeza de que estava tudo correto. As idas àquela cidade se tornaram constantes, mas só nos fins de semana.
Para ouvir as pessoas mais importantes era preciso ir a suas casas, dado a incompatibilidade do horário normal de expediente.


Que maravilha! Estava circulando o meu próprio jornal com oito páginas semanais. Trabalhava para o Renato até quinta e, até segunda, para dar conta do Expresso, que entrava para história da pequena cidade como o primeiro jornal local. Em pouco tempo tínhamos quase mil assinaturas.

Virou uma coqueluche na cidade e recebemos o apoio dos poderes constituídos, Executivo e Legislativo. Também agradeço aos irmãos Gilberto, Márcia e Jedeon dos Santos Neto, pela enorme ajuda.

Não esqueço da vó da Suzana e da Sandra, a dona Joselina, que sempre me recebeu de braços abertos em sua casa em Salto do Jacuí. Também devo obrigação ao Nilson, ao Nilton Oliveira e ao ex-prefeito Acélio Muratti.

Mas aquelas idas e vindas, varando noites em rodoviárias e dentro de ônibus, foi me esgotando aos poucos, sem que eu percebesse. Quando os amigos me alertavam para o tal de estresse, dizia que era doença de rico. Eu não seria atingido. Quanto mais trabalhava, mais vontade eu tinha.

Infelizmente, não foi bem assim. Acabei adoecendo e quase coloquei tudo, ou melhor, todo o pouco que havíamos conquistado, a perder. Comecei a passar noites em claro, com insônia e, quando dormia, sonhava com o serviço, com as matérias, com as fotos.

Numa noite, minhas pernas tremeram, meu queixo endureceu e a língua quis enrolar. Fiquei apavorado e disse para a Suzana:
-Me leva no médico que eu vou morrer! - Eu era muito vil. Tinha medo até de injeção. Aquilo me chocou e pensei de fato que morreria. O Renato foi chamado e rumamos para o hospital. Não havia plantonista.


Como éramos bem conhecidos, fomos à casa do médico Adonir Câmpara, um pediatra. No caminho, eu queria saltar do carro e ir correndo para chegar mais rápido. As coisas começaram a ficar embaçadas, turvas...

Achei até que iria desmaiar de tanta ansiedade (eu nunca desmaiei). Chegamos no médico e ele ficou atônito diante do meu quadro clínico. De pronto, perguntou o que eu tinha, se havia saído de algum velório. Com muito custo, consegui falar.
-Não é nada disso, doutor. Estou com estresse! Eu trabalho feito doido e agora acho que chegou a minha vez.

Ele nem me examinou. Só ouviu a Suzana e lhe entregou uma receita à base de Lexotan, um faixa preta terrível. Cada dose era uma paulada. Já em casa, tomei dois de vereda e caí na cama. Como não dormia direito a semana toda, aquilo foi um alento. Uma coisa dos deuses.

Foi mesmo que tirar com a mão. Noutro dia eu estava renovado e recomecei com mais força ainda. Escapei dessa, o negócio é seguir em frente, pensei. Outro engano. A melhora foi passageira e o estresse se fez sentir com mais força. De tal modo, que eu não conseguia montar uma só página do jornal.

As coisas encaixavam na minha mão mas se espalhavam na cabeça. Uma coisa terrível! Para tudo o que eu olhava, parecia um quebra-cabeças. Fui fraquejando, fraquejando e acabei sentindo o que é sofrer de estresse e, mais tarde, da terrível dor da alma. A malfadada depressão.

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