quinta-feira, 24 de setembro de 2009

20 Anos de Jornalismo

Vulmar Leite entrega prêmio ao Expresso (eu) porque, naquela época (1994) já foi considerado o mais lido da cidade. A pesquisa foi da empresa EMBOPP.

A guinada do Expresso e o
limiar das batalhas jurídicas

Numa de minhas visitas à redação, me juntei à Sandra num desespero total. Faltava o dinheiro para a impressão. E as gráficas não deixavam por menos. Sem o cheque (ou o faz-me-rir) o jornal não rodava. Naquela tarde passamos um dia horrível, buscando meios de seguir em frente. Quando foi umas horas, a nossa única máquina fotográfica havia sumido da redação. Me vi ainda mais acabrunhado.

Aquela máquina era a única ferramenta de trabalho. Eu a havia comprado com muito suor, trancado numa sala de fotolitagem lá em Ibirubá. Trabalhei mais de mês indo de ônibus às sextas-feiras fotolitar (passar as páginas para o filme, quando não existia paginação eletrônica) o jornal Visão Regional para receber a máquina como pagamento.


Era uma Zenit comunzinha, mas a primeira câmera profissional que manuseei. Que tristeza! A Sandra tentava me acalmar. Pensei em fechar tudo e voltar para Tupã ou Cruz Alta, onde eu tinha proposta (feita pela Teolides Antonello) para atuar como locutor da Diário FM, empresa onde havia trabalhado dois anos antes de vir para Tupã e Santiago.

Estava entrando em parafuso quando chegou a notícia de que, à noite, deveríamos comparecer a uma festa promovida pela empresa EMBOPP - que fazia pesquisas para apontar os líderes na preferência pública. É que o nosso jornal, prestes a fechar as portas, depois de dois anos de circulação, tinha sido apontado em primeiro lugar. Aquela notícia foi uma injeção de ânimo.


Lá se fomos, a Sandra, o Marinho e eu para receber o diploma de jornal mais lido de Santiago. Uma grande honra. Até discurso eu fiz em nome da imprensa. Nem sabia o que dizer de tanta emoção.

O prefeito era o Vulmar Leite, de quem ouvi as primeiras ameaças contra o nosso trabalho. Lembro até hoje como foi.


Depois de quase quebrar meus dedos num aperto de mão antiquado - velho costume que ele só largou há pouco, quando o Expresso falou que tal hábito era incômodo -, me olhou bem nos olhos e seguiu-se um diálogo que vale a pena relembrar.
- Eu mandei um processo lá para o teu jornal. Não sei quem é esse tal de Tio Maneco, mas você poderá encaminhar as coisas e distribuir contra quem de direito é a ação - me disse Vulmar.

-Como, doutor? Não entendi.
Falei em tom brando, mas já sabendo que o assunto foi graças a uma ‘paulada’ dada nele pelo velho Tio Maneco, o Manoel Loureiro, famoso na região pelo método direto de escrever e de dizer o que pensava.


O veterano da política e da poesia nativa, entre outras coisas, havia chamado o grande prefeito de Hitler (ditador alemão), denunciando uma ousadia dele quando deixou um grupo de servidores públicos esperando um tempão para tomar um chá com o prefeito. Isso no Dia do Funcionário Público.


O polêmico colunista também escreveu que Vulmar era perseguidor. Quem não lhe agradava por "A" ou por "B!", ele trocava de setor, rebaixando o cargo conforme a lei lhe permitia.
- Esse processinho, meu guri, é só um tiro de aviso, para você saber que Santiago não é como tu pensa - , falou Vulmar com seu dedo em riste, bem na minha cara.
Ouvi essa frase e me afastei lentamente, mas não sem antes dizer-lhe que fizesse o que bem entendesse.


Pois ao dar espaço ao seu Loureiro, lhe prometi que não lhe tosquearia nada de seus escritos. Precisava cumprir minha palavra. Disse também que, apesar do tiro de aviso, eu seguiria meu destino e esperava que ele compreendesse a nossa tarefa.

Após a festa, vendemos espaços a todos os premiados da noite e arrumamos verba para a nossa impressão. Na outra semana, na outra e na outra, ainda seguimos ouvindo os elogios por termos atingido a preferência pública.


Destronamos A Razão e o Correio do Povo em matéria de liderança e aquilo nos deu um aval para abraçarmos mais um pouco os desafios e elevarmos o conceito do jornal até para nós mesmos, desacreditados que estávamos perante o nosso próprio pensamento. Nos meses que se seguiram, tudo foi mais fácil.

Nunca esquecemos daquela noite por duas razões óbvias: a credibilidade, que dobrou pelo título recebido, e pela briga com Vulmar Leite, a qual iria se perpetuar por anos. Afinal, eu não tinha nada a perder. Estava no universo santiaguense para o que desse e viesse, e o Vulmar tinha um lombo enorme para bater.


Menos mal que ele provocou. Eu vi a chance de crescer em suas largas costas públicas, fazendo dele um bode expiatório para mostrar a força crítica do jornal. Deixando claro que o homem do PMDB, capaz de quebrar a hegemonia do PP em 1992, não vencera a sua própria vaidade dominadora.


Nossa equipe então ganhou essa tarefa, a de mostrar que ele não passava de um sujeito cheio de desconfiança, com mania de perseguição. Tanto pior para ele. Tanto melhor para nós, ora pois!

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