sexta-feira, 25 de setembro de 2009

20 Anos de Jornalismo


Assumindo o comando

Foram dois anos com a redação a cargo da Sandra. De 94 a 95 ela comandou o espetáculo. Eu recebia as matérias e transformava tudo em 12, 16 páginas de Expresso, feitas em tempo recorde. Lá em Tupã, na redação de O Semanário, meu antigo emprego, eu tinha só uma noite e meio dia para lidar com o material que chegava de Santiago.


Depois de tudo editado às pressas e, enfim, nas páginas, eu ia a Cruz Alta imprimir o jornal. Lá pela madrugada tudo estava pronto.
Quando a data de circulação coincidia com minha futura visita à redação aqui na Terra dos Poetas, meio sonolento, pegava um ônibus para Santa Maria. Depois, outro para Santiago, onde chegava às três e meia da madrugada.


Descia na rodoviária levando nas mãos dois fardos com uns mil jornais. Chegava na redação, morada da Sandra, e dormia até às 8, 9 horas. Depois, o dia seria corrido. Precisava me informar das últimas, dar uns rumos à equipe e preparar melhor o material da próxima edição, pois era preciso aproveitar o fim de semana que iria passar em Santiago. Na segunda, pela manhã, ia embora para Tupã.


Deixava Santiago com o coração partido, levando na bagagem uma vontade louca de trabalhar mais e mais pelo Expresso. Entretanto, o meu amigo e patrão Renato Carvalho me aguardava na Terra da Mãe de Deus para dar continuidade em O Semanário. Essa rotina se seguiu até o ano de 1996, quando decidi vir em definitivo para Santiago. O Renato não queria, mas como eu havia deixado um substituto à altura do que o jornal exigia, nos resolvemos.


O Hélio Veiga aprendeu a profissão de paginador e lá ficou para seguir a linha que eu criei. Depois de alguns anos, já bem colocado em Santiago, me obriguei a regressar a Tupã por uma causa nada agradável. Fui dar o último adeus ao meu grande amigo Hélio, que morreu vítima da Aids. Para o Renato Carvalho e para mim, foi um baque muito forte, não para O Semanário, porque o nosso querido amigo tinha ensinado mais gente a fazer o jornal.

Voltando para Santiago, o tempo passava e nada do jornal decolar como eu esperava. O tripé da coisa não funcionava. Estava capenga por falta de investimentos, falta de apoio e, sobretudo, por falta de gente. Quando cheguei de mudança em 1996, trouxe mais reforço braçal.


O seu Mário, meu sogro, sua esposa Rosângela (Negra), seus filhos Maurício, a Sabrina (ainda menina) e, claro, a minha adorada Suzana e nossos filhos. O Fagner e a Fernanda. Um com sete e outro com dois anos. Conosco ainda veio a minha sogra Noemi dos Santos, pessoa doente que precisava ser amparada pelas duas filhas.

Tudo bem. Vamos encarar o Expresso de perto. Ele vai ter que render para todas as famílias. Combinamos fazer um caixa único e só pegar o básico. O resto seria investido no jornal. Menos mal que o seu Mário sempre trabalhou com pescado. Esse ofício, alicerçado pela habilidade de fazer qualquer coisa na área da construção civil e em outras tantas, permitiu-lhe um extra para levar a vida.

De cara, precisei saldar algumas contas contraídas pela Sandra em nome do Expresso. Era aluguel da redação vencendo, mais as contas de água, luz... Só não havia conta de telefone porque nós não tínhamos um. As poucas ligações que eram feitas partiam da Churrascaria Zuliane.


A Sandra se virava, mas não poderia fazer milagres. Ela ainda não era boa redatora e nem vendedora, que dirá administrar todas aquelas contas. Pobre garota. Sozinha, sem a família, agüentou por dois anos. Mas enfim, o socorro chegou e nos haveríamos de vencer.

A segunda etapa da luta teve início. Meu primeiro passo foi enfrentar os credores. Fui ao Mauro Nicola, dono da imobiliária responsável pelo imóvel da atual redação. Mesmo devendo, precisava alugar outra casa para morar. Falei da nossa situação, parcelei a dívida e ele me confiou mais um imóvel. Uma modesta casa junto ao açude da antiga Viação Férrea - bairro São Vicente.


Jogamos os móveis ali e baixamos a cabeça no serviço dia e noite. Na redação, apenas um computador que a Sandra e eu havíamos comprado lá em Tupã. Com minha indenização do antigo trabalho, comprei uma impressora. Com alguma sorte conseguimos uma sala (do seu Astrogildo Deponte) em frente à Rádio Santiago já com telefone.


A Sandra mudou-se para um apartamento acima da loja Kúbiça. O seu Mário se instalou no bairro São Vicente e de novo passamos a vizinhar.
Foram dias difíceis, amenizados pela força conjunta dos Siqueira e Lemes por um jornal que começava a melhorar e a ganhar mais leitores dia após dia. A diagramação ficou melhor.


Seguia em preto e branco, mas os contornos de um grande jornal já se vislumbrava, graças a minha maior dedicação. O local da impressão também mudou. Passou para a empresa Mercosul, de Sano Ângelo, onde imprimimos até hoje. Primeiramente, o jornal era mandado e regressava impresso pelo ônibus São Pedro. Até o pastor Aldo Dornelles nos emprestou seu carro para trazermos o jornal. Quando as coisas melhoraram, passamos a ir no opala do seu Mário.


Aliás, convém dizer, ele ficou por um bom tempo tendo esse ofício, de levar as provas em papel vegetal, prontas para a impressão, e de trazer o jornal impresso nas manhãs das sextas-feiras. Quando dava no jeito, ele ainda ia junto com seu filho mais moço, o Maurício, para os bairros acompanhar a entrega. Era o Expresso fazendo sua história. Era a família unida em torno do mesmo objetivo.

Nenhum comentário: