quinta-feira, 5 de novembro de 2009

20 Anos de Jornalismo

Percalços familiares

Ao se confirmar o crescimento do jornal, embora a passos lentos, a satisfação em conduzi-lo redobrava. O ano de 1996 tinha tudo para encerrar de uma maneira esplêndida. Até já estávamos na nova e atual sede, na rua Benjamin Constant, 590. Porém, alguma coisa muito triste nos aguardava antes do limiar do novo ano. Uma força maior haveria de transtornar toda a nossa família.

Naquele verão, por estar finalizando as aulas no colégio Cristóvão Pereira, uma turma de alunos resolveu fazer uma excursão à famosa gruta Nossa Senhora de Fátima, em Nova Esperança do Sul. Junto à turma excursionista estava meu cunhado de 14 anos, o Maurício da Silva Siqueira, filho homem mais novo do seu Mário. Seria um bom passeio ao belo e santo local.

Seria, porque ao jogar-se n’água, próximo à gruta, Maurício acabou se afogando. Logo ele, que era bom nadador, por algum fator desconhecido até hoje, pereceu naquelas calmas águas, levando desespero e dor aos seus irmãos: Suzana, Sandra, Mário Jr e Sabrina. Mais ainda ao meu sogro. Justo ele, que, no passado, perdera três filhos quando ainda eram bebês.

Na noite anterior, eu tinha amanhecido no trabalho, como sempre. Pela manhã, fui acordado pela Neli, minha antiga empregada.
- Seu João, acorda! O Maurício morreu!

Aquela figurinha da Neli, uma mulherzinha de um metro e meio, aos prantos, jamais vai sair de minha memória. Tampouco a imagem de seu Mário, instantes mais tarde. Ele largou sua bicicleta para que despencasse no barranco frente a minha casa, junto ao açude da Viação Férrea, e buscou consolo nos braços de sua filha, a Suzana. Aquele filho significava tudo para ele e para a Rosângela (Negra), segunda esposa do seu Mário.

Mesmo sendo meio-irmão das minhas sócias Sandra e Suzana, o baque foi terrível. Pior para a Sandra que nem estava na cidade. Tinha ido a Cruz Alta depor numa questão trabalhista em favor do meu antigo patrão, o Renato Carvalho, lá de Tupanciretã. Ela teve que vir às pressas, abalada pela inesperada notícia.
Meio transtornado, resolvi parar a edição na metade, reunindo forças para proceder com as ações pertinentes aos atos fúnebres.


Como ninguém de nós tinha carro, saí a pé pela cidade. Nunca havia feito aquele tipo de serviço e me esforcei para não desabar no meio da rua. E ao adentrar na funerária, quase desmaiei, enquanto o corpo do jovem chegava de Nova Esperança.

Toda a dor e desespero encontrava certo alento quando os amigos vinham em nossa direção. Um deles foi Itacir Flores, capitão da Brigada Militar, hoje meu compadre. Ele colocou um carro e motorista à disposição. Pela manhã, providenciamos o traslado para Júlio de Castilhos, onde Maurício repousaria eternamente em terra natal.

Fizemos aquele trajeto sufocados na tristeza, pois estávamos levando para o campo-santo o corpo inerte de um jovem que era alegre e destemido. O menino que viera para atuar no jornal, agora estava morto. Partira tão cedo dos braços de seu pai e mãe.
Ao retornarmos de Júlio de Castilhos, tive que terminar a edição do Expresso, publicando a terrível notícia, sabendo que no dia seguinte (sexta-feira), não teria mais a ajuda do garoto para entregar o jornal.


Precisei ir com o seu Mário para os bairros e ouvir todas as expressões dos leitores, que estavam ansiosos pelos detalhes do triste fato. Ainda com os olhos marcados, o seu Mário entregava o exemplar com a foto do filho na última página.

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