quarta-feira, 26 de maio de 2010

Minha palestra


Na sexta à noite palestrei na Câmara para acadêmicos do curso de Letras da URI e demais membros da seleta plateia, na Semana Literária, da Casa do Poeta. Falei por 60 minutos e, graças aos céus, todos ficaram atentos o tempo todo.

Como (quase) sempre, abordei a simplicidade da comunicação, que é também uma forma moderna. Observei a dificuldade em se fugir das frases feitas, das linguagens da moda. Em suma: disse que o correto em um texto, para ficar atraente e ser lido por mais gente, a exemplo do nosso Expresso, é aproximar fala e escrita.

Como exemplo citei o filósofo Arthur Schopenhauer, o qual morreu 100 anos antes de eu nascer, mas por incrível, deixou exemplos, justo os que eu já praticava, sem ter lido seu livro.

O texto a seguir eu tirei do livro de Schopenhauer, numa forma dele criticar e debochar, até, da maneira truncada, complicada de escrever de alguns escritores e editoras. Vejam:

A próxima publicação de nossa editora:

"Fisiologia científica, teórico-prática, patologia e terapia dos fenômenos pneumáticos denominados flatulência, que são apresentados de maneira sistemática em suas relações orgânicas e causais, de acordo com seu modo de ser, como também com todos os fatores genéticos condicionantes, externos e internos, em toda a plenitude de suas manifestações e atuações, tanto para a consciência humana em geral quanto para a consciência científica: uma versão livre da obra francesa l'art de péter. A arte de peidar, provida de notas corretivas e excursos esclarecedores."
(Arthur Schopenhauer)

Com isso, concluí que muitos palestrantes acabam o trabalho pensando que todos entenderam, e a plateia vai embora achando que o cara é muito erudito, intelectual aponto de ninguém tê-lo entendido.

Falta descomplicar

A complicação vem desde a forma de escrita até a forma falada. As pessoas adoram dizer, por exemplo “déficit habitacional” em vez de dizerem “o nº de casas que faltam”. Adoram dizer “pista de rolamento”, em vez de rodovia, asfalto, estrada... Dizem “egressos do sistema prisional” em vez de “ex-presidiários”. “Recolhido ao presídio”, em vez de “preso”. “Veio a óbito”, no lugar de “morreu” e assim se vai...

Deturpações

Ainda faltou mostrar a deturpação da linguagem, exageros, distorções etc.
Redundâncias como “seguir adiante”, “encarar de frente” “voltar atrás”, “dádiva divina, ou de Deus”, ”quem cedo madruga”, “logo em seguida”...
E há também coisas impossíveis, e que a toda hora repetem, como “noção exata”, “péssima qualidade”, “ele é um dos mais autênticos”...

Politicamente correto? Isso?

Outro tema foi o "politicamente correto", para maquiar a realidade, do tipo: "adultos maiores", "melhor idade", "feliz idade", "maior idade", "terceira idade", portador de necessidade especial" (como se consegue "portar" uma necessidade?)...

Era isso. Espero que tenham gostado.
A todos os que me ouviram, o meu muito obrigado.

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