segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Crônica do dia

Expresso, 18 anos

Escrevo aqui de Santa Catarina. Num lugar calmo, cercado de verde e água, meu pensamento foca um tempo longínquo: minha infância perdida. Como sabem, fui o menino pobre que rolou, que fugiu de casa aos 14 anos por não aguentar as torturas da tia. Sem chances de voltar à escola, buscou nos livros (mais no da vida) o aprendizado pra ser autodidata, cujo compromisso social defende há mais de 20 anos.
Neste ano em que o Expresso fecha seus 18 anos, revejo tudo isso. Lembro do meu pai, morto por uma bala aos 38 anos, deixando a mim e demais filhos ao léu. Desde aquela época, jurei que jamais usaria arma de fogo, instrumento dos fracos. Lembro da tia Elvira, que me cuidou até certa idade, do tio Valdomiro que ficou comigo até eu ter 14. Lembro do colégio interno, das brigas, das ofensas.

Lembro dos amigos de hoje que dizem: “Tu só não foi bandido porque não quis, pois foi atirado ao mundo. Mas não foi assim, não é assim. Cada um traz a missão, a índole própria, boa ou má. Fajuta, machista, malvada, covarde, seja o que for está dentro de nós. O mundo só ensina...

Como é bom lembrar, saber que venci parte da batalha construindo um lar pra família e um jornal que é lido por 40 mil. Como é bom receber o carinho dos leitores, das pessoas de bem. Por tudo isso que reflito, por tudo isso que vivo, por tudo isso que não desisto de nada. A vida me fez assim, fui aluno dela e aprendi, mas não o suficiente. E foi isso que me motivou nesses 18 anos de Expresso e que seguirá me motivando por mais 18.

Nenhum comentário: