segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Frases que deveriam ficar esquecidas

(J.Lemes)
A todo momento alguém “cunha” uma frase, uma expressão, um “dito”. A toda hora alguém ouve, acha lindo e começa a repetir. Certo! O que é bom vale ser repetido, mas convenhamos, algumas Expressões prontas já não se aguenta mais, por exemplo:

“Para que a nossa população tenha uma melhor qualidade de vida”;
“Pra música eu sou bem eclético; gosto de tudo”;
“E que venha 2014! (ou outro ano ou outra coisa);
“Deixo de citar nomes para não cometer injustiças”;
“Independentemente de cores partidárias”;
“E não poderia ser diferente”;
"Cumprimento as autoridades já nominadas no protocolo";
“Eu não sou político, eu estou político”;
“Toda a loja com 50% de desconto”;
“A mais ouvida da cidade”;
“A nossa loja está de aniversário, mas quem ganha o presente é você”.

Obs. Caso você lembre de mais algumas, me ajude, enviando sua sugestão por mail.
Jlemes@expressoilustrado.com.br

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Décima a um guri vencedor

(Tadeu Martins -  poeta e artista plástico) 

Não reparem a presença
Da payada sem penacho,
Que o meu versejado guacho
Muito simples de nascença,
Saudando pede licença
Já logo no cabeçalho,
No improviso pode um falho,
Mas admira as clarezas
E a mais nobre das certezas
De acreditar no trabalho.

Com muita felicidade
E com prazer no endosso,
Em abraçar este moço
Com 20 anos de idade,
Vai resguardando a verdade
Da gente que faz história,
Esta é a promissória
Do dia-a-dia comum,
Que a vida de cada um
Resgata com a memória.

E qual seria outro jeito
Senão gostar do serviço?
Se existe um compromisso
Batendo dentro do peito,
Por isso vem satisfeito
Mais honesto que um agrado,
Anda sempre arremangado
Porque é um moço decidido
E atende pelo apelido
De Dom Expresso Ilustrado.

Entre tanta novidade
O Expresso vai me contando,
De um guri que foi ficando
No vazio da orfandade,
Na roca de uma saudade
Que vai tecendo e se encarda,
Como um feitiço ainda guarda
Um sentimento profundo,
Como se morresse o mundo
Com um tiro de espingarda.

E a viúva mãe, pobrezinha,
Com oito filhos queridos,
Oito destinos doídos
Que a dor ninguém adivinha,
Sem o seu mundo, sozinha,
Sem saber vencer as crises,
Os dias ficando grises,
Pelo suor foi batizando
Com o sal da vida e abençoando
Pra todos serem felizes.

E o tal destino apronta
Dezenas de encruzilhadas,
Sem saber qual das estradas
Que o dedo de Deus aponta,
O vento vem e reponta
O guri que estava nele,
Divide um pouco com ele
A lembrança do papai,
Buscando a sorte se vai
Levando um rio dentro dele.

Assim aquele guri
Depois que o mundo morreu,
O tio Milton o acolheu
Residindo em Panambi,
Foi ganhando por ali
Amor da família amada,
Mas lá um dia a estrada
Que tem o fado na mão,
Lhe deu um baita empurrão,
De volta pra encruzilhada.

Como se fosse um perigo
Que a vida oferecia,
Quanto mais ele sofria
Mais aumentava o castigo,
Ao encontrar novo abrigo
Cumprindo de vez a sina,
A sorte – velha malina –
Entregou-lhe um Anjo-mau,
Com um pedaço de pau
Nas mãos da tia Otelina.

E logo veio o estudo
Pra diminuir o inferno,
A merenda, o caderno,
O tapa-pó, conteúdo,
Parece que tinha tudo
Ganhando alguma bolita,
Foi aprendendo na escrita
Embaixo da luz da rua,
Que depois da luz da lua
Há uma luz que se acredita.

Depois veio a molecagem
Igual a qualquer criança,
Depois veio a esperança
Que parecia bobagem
Na verdade era a coragem
De um dia arrepiar a crina,
Horizonte na retina
E a voz interior decreta;
- Monta já na bicicleta
E adeus pra sempre Otelina!

Chega o dia, é carnaval,
Veio a hora iluminada,
Chegou a hora sagrada
De virar de ponta o mal,
Espécie de vendaval,
Mistura de redemoinho,
O coração sem caminho
Foi recebendo um sorriso,
Entrando no paraíso
Pelo olhar de um carinho.

Ocultas léguas da vida
Foram clareando ternura,
Cada flor que era escura
Foi ficando colorida,
E aquela moça querida
Como um cântico de Hosana,
Assim a paixão abana
Com seu perfume de arejo,
Ficando dentro de um beijo
O doce amor de Suzana.

Um santo soube mandar
E mandou de déu em déu,
E os filhos vieram do céu
Escolhendo o novo lar,
Vieram para curar,
Cantar o mesmo estribilho,
São nós dos mesmos atilhos,
São dores dos mesmos ais,
Às vezes são nossos pais
Que nós chamamos de filhos.

Assim agrada o infinito
Um sorriso, uma carícia,
Esta é a melhor notícia
E deixa o viver bonito,
Cada palavra me edito
Com a tinta do coração,
Para mostrar que o perdão
É lei suprema e não falha,
Fica uma luz e se espalha
No aperto de cada mão.

A grande revelação
Através de um fotolito,
Surgiu uma luz do infinito
Saindo da escuridão,
Imprimiu no coração
Um sonho Gutenberguiano,
Mais parecia um engano
Com chapa, tesoura e cola,
Formasse a primeira escola
No jornal Diário Serrano.

Como quem lê um romance
E a própria alma escutando,
Que não há nada sonhando
Onde o sonho não alcance,
Por mais que a tranqueira transe
O trabalho dá o aval,
O sonho fica real
E grita: - Futuro à vista!
Surge o guri-jornalista
Criando um grande jornal.

E regendo a sintonia
Como um canto de calhandra,
Pra ele é a cunhada Sandra,
Pra nós é a grande guria,
E a mais bela profecia
O Cosmo se manifesta
Onde o céu abre uma fresta
E saem pelos postigos
Os anjos dos seus amigos
Que são aos donos da festa.

Termino aqui a conversa
Sou grato com muito apreço,
Fui benzido no começo
E a verdade se alicerça
Em tudo que em mim se versa
Desde a minha certidão,
Lendo-me todos dirão:
- Este é um moço bem criado
E um filho, também amado,
Do guri chamado João.