terça-feira, 2 de março de 2010

Eu, um livro aberto

Encontro-me recostado à minha cadeira diante do micro, mas os pensamentos povoam minha mente com notícias longínquas, mais precisamente da minha infância (quase) perdida. Como todos sabem, fui aquele menino pobre que rolou pelo mundo, que foi criado por parentes, que fugiu de casa aos 14 anos por não aguentar as torturas de uma tia. Sem chances de voltar à escola, buscou nos livros, mais no da vida, o aprendizado que faria dele um autodidata, um jornalista profissional, cujo trabalho, cuja missão, cujo compromisso social e comunitário defende há mais de 20 anos.


Hoje, como eu ia dizendo, meus pensamentos vasculham o passado. Me lembro do meu pai, morto por uma bala aos 38 anos, deixando a mim e demais filhos ao léu. Desde aquela época, jurei que jamais usaria arma de fogo, instrumento dos fracos. A tristeza da infância faz sentido, afinal, a ruptura do meu pai e eu foi terrível, morte esta que até hoje não foi vingada, nem pela Justiça, talvez um dia o seja pelas mãos de Deus.

Lembro da tia Elvira, que me cuidou até certa idade, do tio Valdomiro que ficou comigo até eu ter 14... Lembro do colégio interno, das brigas, das ofensas... Lembro dos amigos de hoje que dizem: tu só não foi bandido por que não quis, pois foi praticamente atirado ao mundo... Caminhou ao lado de um abismo... Teve que escolher entre o bem e o mal...
Mas não foi assim, não é assim. Cada um traz dentro do seu eu a missão, a índole própria, boa ou má. Fajuta, machista, malvada, covarde, seja o que for está dentro de nós. O mundo só ensina...

Pois é, amigos. Lembranças, lembranças... Como é bom lembrar, saber que venci parte da batalha da vida construindo um lar pra família e um jornal que é lido por 30, 40 mil pessoas. Como é bom receber o carinho dos leitores, das pessoas de bem, dos amigos... Por tudo isso que reflito, por tudo isso que vivo, por tudo isso que não desisto de nada. A vida me fez assim, fui aluno dela e acho que aprendi, mas não o suficiente. E é isso que nos motiva a cada dia.
(escrito em fevereiro de 2009)

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