domingo, 19 de setembro de 2010

Gaúcho e Colono

No sábado, pela Central FM, relembrei meus 12 anos, quando pela primeira vez pisei num palco. Era um 20 de setembro e fui convidado a declamar uma poesia, isso graças aos meus dotes de decoreba e de metido a conversador.

Arrumei bota e bombacha emprestadas e me toquei pra festa da escola. Minha alegria: não errei um verso sequer e até fui aplaudido. Minha tristeza: ninguém da minha família foi me ver.

Guardei a poesia até hoje (na cabeça) e apenas não sabia o nome do autor. O problema é que só após tê-la declamada na rádio, é que lembrei de procurar no Google pelo nome dele. E aí, pra minha alegria, estava lá: Jayme Caetano Braun.
Me penitencio agora e publico a poesia na íntegra (no programa pulei uns versos) e seu autor.
Obs.: o azar de vocês é que o patrão Éldrio ligou pra rádio elogiando a minha "payada", motivo pelo qual, seguirei declamando alguma no Expresso no Ar (mas só de vez em quando).


GAÚCHO E COLONO
Jayme Caetano Braun

Mais de cem anos já faz
Que num arranco pujante
Chegou da Europa distante
Um vulto cheio de entono.
Que vinha também ser dono
Da nossa querência eterna
E o guasca boleava a perna
Pra receber o colono.

Desde então entreverados
Dentro dos mesmos cenários
Os dois vultos legendários
Do pago continentino
Entoaram o mesmo hino
De fulgente trajetória
E se embretaram na história
Traçando o mesmo destino!

E ao longo dos territórios
Que o gaúcho conquistava
Vinha o colono e plantava
Seus roçados e tapumes.
Copiou do guasca, os costumes,
As lendas e as diversões
E até mesmo as tradições,
Guardadas cheias de ciúmes!

E ao redor das sesmarias
Dos vales e dos penedos,
Foram surgindo os vinhedos
No maior desembaraço,
E a enxada, o machado de aço
Entravam na sintonia
Na mesma escala bravia
Da boleadeira e do laço.

Foi o toque generoso
Desse sangue de além-mar
Que veio fortificar
A raça, que então nascia.
Dando a têmpera bravia
Padrão de força e virtude
Dessa fusão semirude
Que despertou nossa cria!

Santo e bendito milagre
Caldeado ao frio do Minuano,
Filho do guasca pampeano,
Filho da Itália e Alemanha,
Entremeados na Campanha.
Tão gaúcho, um como o outro,
Tamanco e bota-de-potro
Na valsa e na meia-canha.

Vejo um, riscando a fogo
Nossas fronteiras de guerra,
Outro falquejando a terra
Na cadência dos arados
E por fim, entrelaçados,
O cabo da enxada e a lança
Glorificando a pujança
Dos nossos antepassados!

Qual dos dois é mais gaúcho
Qual dos dois é mais Rio Grande?
Se o peito de ambos se expande
No mesmo sagrado anseio?
Já não é mais o que veio
Já não é mais o que havia,
Rio Grande, hoje, é a sintonia
Da lavoura e do rodeio.

Pois, se o guasca evoluiu.
Para chegar ao atual,
A velha fibra imortal
Pelas épocas perpassa.
E o Rio Grande se entrelaça
Nesses dois tentos torcidos
Que vieram, depois de unidos,
Formar o sovéu da raça.

Eu te bendigo colono
Desbravador primitivo,
Não como filho adotivo
Deste chão, santo e eterno,
Mas como anseio fraterno
Do velho pago bagual
Que em troca de amor filial
Te deu o amor paterno!

Por isso, como patrício
Riograndense, antes de tudo
Querido irmão, te saúdo
Corcoveando de emoção,
Pedaço do meu rincão
Que estreito um abraço forte,
Porque és também um suporte
Da gaúcha tradição.



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