quarta-feira, 14 de junho de 2017

E se nada der certo?

(e não deu nada certo)

Novo Hamburgo - Há muito se ouvia essas frases nas escolas; “Ou você estuda ou será pedreiro, empregada doméstica, carpinteiro, porteiro e até gari”. Tais práticas eram usadas como “incentivo” ao aluno que desejasse ser engenheiro, médico, agrônomo, dentista... Hoje ainda se vê professores “incentivando” assim os alunos, dizendo que se eles não estudarem poderão “não dar certo” e acabar num cargo desses.  

Na semana passada veio à tona uma festa dos estudantes de uma escola evangélica de Novo Hamburgo (IENH). O nome do encontro era “Se nada der certo”. Os alunos fizeram fotos com trajes que representam profissões que seriam a última alternativa na vida. As fotos ganharam as redes sociais e causaram grande repercussão no país. A instituição removeu as imagens e divulgou um pedido de desculpas.

Internautas lembraram que o Colégio Marista Champagnat, de Porto Alegre, foi o primeiro a trabalhar o tema “Se nada der certo” em uma festa promovida em 2015. Vejam parte da resposta que Márcio Ruzon, que é filho de porteiro:

Ao Colégio Marista:
(por Márcio Ruzon) - Meu pai aposentou-se como porteiro. O mesmo que vocês têm aí no colégio, que os pais “que deram certo” passam e nem cumprimentam. Meu pai trabalhava muito e o que  recebia era uma mensalidade que as famílias “que deram certo” pagam pra vocês ensinarem essa ética (ou falta dela) aos estudantes. Ele tinha uma barra forte preta e com ela ia de sol a sol, chuva a chuva, noite a noite, cuidar de fábricas ou de condomínios ao estilo que os alunos moram ou que os pais “que deram certo” trabalham como diretores, gerentes. Aprendi a profissão com meu pai. Fui porteiro por anos. Vi o que é comer em pé ou no banheiro porque não tem ninguém pra substitui-lo nos intervalos.

Colégio Marista, meu pai não deu certo. Criou três filhos junto com a minha mãe que ficava apreensiva em casa: “Será que ele volta?” Porque meu pai pegava estradas perigosas de madrugada. Mas ele não deu certo. Conseguiu sustentar 3 filhos (e minha mãe administrando como uma Economista) com pouco mais de um salário, hoje todos bem e com família, mas infelizmente ele não deu certo.

Meu pai não é desses pais bacanas que param aí na frente ao colégio com Cherokees, Tucson, sorrindo pra quem convém e pisando nos descartáveis. Meu pai tem um Palio que vive quebrando, e mesmo debilitado pela idade, levava todos os netos às escolas públicas. Mas, que pena! Meu pai não deu certo. Quem deram certo foram essas famílias que dependem da faxineira, do porteiro, do zelador, da cantineira, do gari, da empregada doméstica. Eles deram certo!

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