terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Pelo ângulo da cangalha

 (J.Lemes) Meu tio fez as vezes do meu pai. Homem bom, puro, trabalhador e sem instrução literária.  Contudo, suas tiradas cristalizavam sua sabedoria. Quando a gente fazia alguma arte, ralhava firme. E arrematava: "Para você não tem cangalha que sirva". Era algo do tipo, "pau que nasce torto..."

Pois bem. Lendo Ariano Suassuna, achei outra pérola. certa vez um empresário disse ao escritor José Lins do Rego: “Então, doutor? Que vida folgada, trabalhando pouco...” “Eu escrevo muito!”, respondeu o escritor. “E escrever é trabalho?”, insistiu o homem. Ao que Lins do Rego respondeu: “Para quem olha o mundo pelo ângulo da cangalha que usa, não!”.

Para quem não entendeu; muitos julgam os outros baseados em seus próprios atos e princípios. Um dos ofícios mais ignorados, fora a classe dos escritores, é a das domésticas e a dos músicos, artistas sem geral. Nunca falta alguém para lhes dizer: "Além de cantar, tocar, dançar, escrever, você faz o quê? Trabalha onde?

E você, senhora, que emprego tens. Nenhum, eu sou do lar... 

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