segunda-feira, 2 de março de 2009

Pão e celular para o povo

Pão e circo para o povo, dizia um imperador, reafirmando a máxima de que se estivermos de barriga cheia, a diversão complementa o viver. Complementava, porque hoje, por mais pobre que seja o vivente, ele dá um jeito de comprar o supérfluo. O casebre escorado com taquara ostenta do outro lado a antenona parabólica. Dentro do rancho, mal consegue andar sem esbarrar na TV e no “som”. Na infância, meu passatempo era contar as tetas da maior porca do terreiro. Também gostava de tomar leite de égua (diziam que era remédio), assim como o açúcar com querosene que saboreava após o pão com banha. Lembro que meu pai trazia mulitas na gaiola e as largava dentro de casa. Morria de medo, porém, adorava ver a cachorrada virando móveis para abocanhá-las. 
Minha casa, lá pelas plagas de Coronel Bicaco, ficava longe de qualquer fio elétrico. O primeiro rádio só conheci quando completei sete anos. Agora, já andam com o celular nas fraldas e, logo ali, está o vídeogame. E por falar em celular, já são mais de 60 milhões no Brasil. Logo que ele surgiu, o chique era colocá-lo à vista. Alguns, até pediam para alguém ligar só pra se exibir. Nos dias atuais, quanto menos mostrá-lo, melhor. Tocar aquelas musiquinhas irritantes, nem pensar. Pior é tirar fotografias em shows repletos de escuridão, como se a imagem fosse prestar. Enfim, ter um celular não é novidade, pois passou a ser igual bunda: todo mundo tem. Apesar disso, a engenhoca promete bater recorde em vendas no Natal. Até eu, que sempre odiei telefone estou pensando em comprar um. Ninguém é perfeito. 

(Extraído de meu livro 20 Anos de Jornalismo. Autobiografia de um Autodidata)

Nenhum comentário: