quinta-feira, 11 de junho de 2009

As boas de quinta


Aí está uma charge do amigo Ed Joaquim em homenagem aos enamorados deste final de semana. Como não estarei em Santiago, deixo essa obra de arte a vocês.

São 18 horas e o Expresso marcha para a gráfica. O dia foi parado, preludiando a sexta-feira que não promete ser mais agitada, já que muitas repartições públicas andarão como tartarugas. A Câmara de Santiago, por exemplo, só terá expediente interno, outras farão ponto facultativo e assim vai... Bendito Brasil de meu Deus.

Saio nesta sexta pela manhã e só volto domingo. Irei a Gramado com a Suzana, pois o hotel Laje de Pedra(Canela) nos brindou com um final de semana inteirinho... Beleza! Lá vamos nós.

Nessa hora, em que estaremos na estrada, vocês estarão lendo o nosso Expresso, minha coluna já foi conhecida de alguns blogueiros, não tem muita novidade. O bom fica pelo conteúdo geral do jornal.

O engraçado é que , hoje, feriado de quinta-fera, tive poucos acessos aqui no blogue. Mas como diz o Márcio, prefeitura fechada, URI fechada, repartições públicas e empresas todas fechadas. Em casa, são poucos os que ligam o computador para ver blogues. Paciência, cada um tem seu gosto...

Agora, mais um capítulo do meu livro para que todos apreciem na minha viagem. Até segunda. Tchau. Fui...

20 ANOS DE JORNALISMO:
De onde vim?

Sou o 7° filho de Tomaz Albino Lemes e de Elvira Chaves Lemes, casal descendente de alemães, italianos e portugueses. Minha avó materna chamava-se Helma Dessbesell e seus avós vieram da Alemanha. Meu avô materno chamava-se Joaquim de Siqueira Chaves. Era descendente de italiano. A família se instalou numa colônia, (Cach), distrito de Condor, próximo a Panambi. Os Lemes (de origem portuguesa) moravam nas proximidades e foram misturando-se aos Dessbesell. Minha mãe é uma das mais jovens de uma turma de 19 irmãos. Pela ordem de nascimento: *Adolfo, *Lindolfo, *Amilda, *Altina, *Jorge, *Sílvio, *Paulo, Albino, *Pedro e Rosalina (gêmeos), *Vilibaldo, Mário, Manoel, Elvira, Lucas, Valdomiro, João, Maria e Generosa (*falecidos). Meu pai, filho de Virgilio Machado e de Idalina Lemes, teve 10 irmãos: Antoninho, Adélia, Glória, Eva, Romilda, Adão, Izaltino, Zilda, Elvira e Nilda.
De Condor, os descendentes de ambas as famílias partiram para outras regiões. Alguns foram parar na divisa com Santa Catarina, para os lados de Iraí. A maioria trabalhou na produção primária, no cultivo do milho, da cana, do feijão, do fumo, da vassoura, do porongo...
Eu nasci aos 11 dias do mês de agosto em Coronel Bicaco - RS, onde fiquei até os cinco anos. É que, após a trágica morte de meu pai, a família se desestruturou. Então, minha mãe precisou vender as poucas coisas que nos restaram e ir embora para Cruz Alta.

Se eu fosse carregar todos os sobrenomes, me assinaria Machado Lemes por parte dos avós paternos; Dessbesell Chaves ou Siqueira devido aos avós maternos. Acabei herdando apenas o sobrenome do pai: Lemes. Meus irmãos se chamam Anilda, Adão Osmar, Idalina Anita, Terezinha de Jesus, Marlene de Fátima, Maria Gladir e Eva Enedir.

A INFÂNCIA

Eu e meu pai

São escassas as lembranças da minha terra natal, Coronel Bicaco. Vivi lá só até meus quatro anos, mas alguns episódios serão sepultados comigo, como a imagem do meu querido pai, com o qual convivi muito pouco. Lembro-me como se fosse hoje daquele seu velho caminhão que voltava da caçada, trazendo um corpo sem vida. Aos 38 anos, o seu Tomaz teve sua luta cheia de glórias e planos interrompida por um tiro de espingarda, que se supôs ter disparada acidentalmente. Acabava ali a esperança dos filhos em mudar de vida pelas mãos do progenitor, homem que era considerado inventor naquela região. Inteligente por demais, sabia fazer de tudo um pouco: era marceneiro, carpinteiro, agricultor... Fazia qualquer coisa. Construiu até uma bicicleta de madeira em sua marcenaria. Meus irmãos e eu adoramos. Tinha até freio.

Meu pai também atuava em serraria, onde, algumas vezes, a sua fiel companheira me dava “de mamá” sentada numa das toras que seriam serradas. Algumas engenhocas movidas à roda d’água ficaram em alguma curva de rio em Coronel Bicaco. Eram os ditos “soques” ou engenhos, feitos para moer erva-mate com a força da água. No meu coração também ficou a saudade de quem mal conheci, mas que me deu os primeiros laçaços para repreender o menino arteiro.

Certa ocasião, ele me surrou com meu próprio relho, tudo porque eu havia brigado com um primo. Minha mãe conta que precisou colocar salmoura no vergão que levantou das costas. Chorei, esperneei, mas a dor passou. Só não passou a dor que ele deixou em mim por ter partido tão cedo. E se aqueles laçaços doeram é porque eu não sabia das relhadas que eu levaria da vida por este velho Rio Grande.

Hoje, atingindo um pouco mais que a idade que seu Tomás tinha quando faleceu, sou convicto de que ele fez muita falta, principalmente à minha mãe, que precisou reconstruir sua vida numa cidade onde não tinha ninguém por si. Sem saber escrever uma linha, palmilhou seu caminho e construiu o pouco que tem. Todos os filhos são honrados cidadãos e nenhum pereceu na mão do destino. Se o seu Tomás fosse vivo, teria orgulho de nós todos.


Extravio dos filhos

Logo que meu pai faleceu, deixando seus oito filhos, cada um teve que se acomodar aqui e acolá pelas casas dos outros para que a mãe pudesse seguir seu rumo e alimentar a família. Dona Elvira então foi vendendo os porcos, as galinhas, a bicharada toda... O milho pendoando precisaria de alguém para colhê-lo mais tarde, por isso, minha irmã mas velha, a Eva Enedir, foi a única a ficar residindo na velha casa em Coronel Bicaco. A ela coube a tarefa de reunir o que restou da produção e vender, pagar contas e trazer algum dinheiro para a mãe que já estava noutra cidade.

Naquele meio tempo, a parentalha começou a ser chamada para dar uma ajuda com a carga de gente. Foi aí que eu conheci a tia Elvira, uma das tantas irmãs do meu pai, que, por força do destino, tinha o nome da mãe. Pois ela apareceu lá em casa para levar um de nós. Qual seria? Ela conta até hoje que preferia ficar com um menino. Havia dois. Olhou para o meu irmão, o Adão. Dois anos mais velho, mais alto, mais magro, mais mirrado. Olhou para mim e pensou ser o de sua preferência. Segundo ela, eu era o mais gordinho, mais engraçadinho, mais bonitinho.

Lá me fui morar em Panambi, enquanto o resto da família foi se extraviando. A mãe em Cruz Alta, as irmãs na casa de uma ou outra tia, num emprego de doméstica - no caso das mais velhas - e o meu irmão acabou mesmo indo parar num colégio interno em Cruz Alta, chamado Bom Menino, instituição mantida pelo poder público, benesse que também me foi estendida quando fiz 14 anos e voltei para casa da mãe. Como ela ainda não havia juntado muita coisa nos últimos 10 anos em que fiquei fora, o que me restou foi o dito colégio, agora chamado de Cebem - Centro do Bem-Estar do Menor.


O Tite da tia Elvira,
a minha nova mãe

Do alto dos meus cinco anos, o Tite - esse apelido me foi dado pela minha irmã, a Marlene de Fátima -, agora residia em uma boa casa, simples, mas com todo o conforto, às margens do rio Fiúza, que corta Panambi e inunda boa parte das casas. Tia Elvira, que maravilha! Eu era seu enteado, no entanto, parecia ser mais que um filho seu. Até agora me chama de Tite. Quando isso acontece, viajo no tempo num piscar de olhos e lembro da comida bem feita, do seu carinho. Lembro do tio Milton Barbosa, seu esposo. Outra figura lendária. Patrão de CTG, era gaudério dos quatro costados, como se diz. Ganhava a vida como barbeiro. (Antes era assim que se chamavam os cabeleireiros). E que barbeiro dedicado! Sua profissão fez escola, e seu filho, o Jorge, segue nesse trabalho no mesmo local, na bela Panambi.

Lá na tia Elvira, eu era o todo-poderoso. Seus filhos me tratavam como um irmão caçula. Desde cedo aprendi a apelidar todo mundo usando dos artifícios dos adultos. O tio Milton era o “Véio”, pela boca da tia Elvira. Ora, se ela o chamava assim, de Véio, eu também poderia chamá-lo. Pronto! Era Véio para cá, Véio para lá. Véio, me leva passear, Véio, me ajuda com esse brinquedo, me deixa ficar no teu “aito”. Esse era o modo de me referir ao seu carro, um Ford Bigode - se não me engano. Um dia olhei para a tia Elvira e disse com voz bem alta.
-Mas se o tio é o Véio, a senhora só pode ser a Véia!
No pé da letra ela respondeu:
-“Eu, Velha? Isso não! Eu não sou velha coisa nenhuma!
-Ah, não é Véia? Se não é Véia, então, é Moça?
Até o dia em que fiquei lá, eles eram o Véio e a Moça.
Tudo ia tão bem. Eu era o mais mimado da tia Elvira. O primeiro a sentar-se à mesa e a servir-se também. Sempre imitando um ou outro da casa, ali fui crescendo e ganhando carinho. Uma vez, quase morri de susto quando uma lombriga brotou de dentro do meu calção, acuada pelo remédio que tomei sem saber porquê.
- Moça! Corre aqui! Me acuda, Moça! Que bicho é esse? Parece uma cobra!
Na Páscoa daquele ano ganhei minha primeira cesta com guloseimas. A tia escondeu e mandou procurar. Em instantes eu a encontrei. Ganhei até da prima Lúcia, que regulava de idade comigo. Assim que achei os doces, mais que depressa gritei:
- A minha cesta tá “atuiadinha”!!!
Que festa! Que tempos! Olha, não sou de chorar, mas se eu não estivesse escrevendo estas linhas no computador, juro que o papel teria molhado com as lágrimas de um tempo inesquecível.
Não fiquei mais que um ano na Tia Elvira em Panambi. Lá se foi o Tite para Cruz Alta outra vez, para a casa da mãe. Não por vontade da tia Elvira, mas por vontade do destino. A verdade é que minha mãe havia me prometido para um de seus irmãos, o Valdomiro Dessbesell, cuja esposa não teve a sorte de criar um filho. Seus três bebês morreram ao nascer. Diante de tal sina, voltei para casa da mãe. Lá fiquei por dias à espera do próximo pai ou mãe que havia de me levar ao novo lar.

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