quarta-feira, 29 de julho de 2009

20 anos de Jornalismo

Casa onde morei, em Panambi. (foto atual, com a casa já renovada)

No colégio dos ricos

Com 11 anos, eu já estava na quarta série e passei a estudar no Colégio Nossa Senhora de Fátima, o “Colégio das Freiras”, ou dos ricos, como diziam. Hoje essa escola não funciona mais lá, só o prédio ainda é o mesmo. Ali estudei por dois anos. Da quarta à quinta séries, quando rodei pela primeira fez e por conta desse fracasso, meu tio nunca mais me colocou em escola alguma.

Foi nesse colégio que eu declamei as primeiras poesias gaúchas e cantei em público. Até ganhei concursos de cantoria. O prêmio de cinco cruzeiros eu levei para casa e ofertei à tia, quem sabe ela queria comprar comida. Eu não sei se havia falta de alimento, só lembro que ela nunca me deixava repetir, além de ser dela a tarefa de servir meu prato. Depois, perguntava:
-Quer mais?
-Claro que não, tia. Comi bastante!
Ela perguntava só para saber, porque se dissesse “quero mais”, ela enchia o prato e fazia eu comer tudo a baixo de laço. Palavreado como “tu tem fome canina, esganado, praga ruim”, era coisa pouca.

Ao chegar em casa com o dinheiro do prêmio, ela nem quis olhar na minha mão, quanto mais saber como o havia ganho. Por orgulho ou inveja, desmereceu minha conquista. Sem outra alternativa para empregar o dinheiro, o gastei comprando merenda e coca-cola. Enchi a pança a semana toda! Eu, que sempre almoçava e num zás engolia a merenda que levaria à escola como parte do almoço, agora tinha dinheiro para viver uma vida à altura dos meus colegas de escola.

Minha tia nem foi ao “show” que eu dei e ainda quase levei outra tunda por me atrasar na escola (o show era depois da aula). Mas enfim, o dinheiro era meu. Ganho com a garganta e com as palmas dos amigos que torciam por mim. Como foi bom ter meu próprio dinheiro e obter o respeito de todos que passaram a me chamar de “o cantor da aula”.

Naquele colégio eu aprendi muito. Até que na mesa a gente usava garfo e faca e não colher-de-sopa. Isso eu soube através das conversas com os colegas, filhos de famílias de mais posses. Eu tinha vergonha de dizer como eram as coisas lá em casa, que meus tios falavam errado e que eu tinha que ouvir rádio ou as outras pessoas para saber como se dizia tal palavra. Tinha medo de falar algo errado perto deles e virar motivo de chacota. De dizer que eu não tinha nem luz elétrica, quanto mais televisão. Lembro que uma coleguinha se achegou a mim, me deixando alegre por despertar sua atenção.
-João, tu tem tv em casa?
Meio encabulado, mas com medo de mentir e ser desmascarado, falei que não, em seguida, quis saber o porquê.
- Nada, não. Eu ia comentar um filme que passou, mas esquece!
Que vergonha! Eu era o único da sala que não tinha uma tv em casa. Fazer o quê? Quando o assunto era cinema ou novela, eu era excluído automaticamente e sem aviso prévio.

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