quarta-feira, 22 de junho de 2016

A invernia, os doentes e os reclames

(João Lemes)*
Há horas o frio não vinha tão cedo e tão forte. Nós, sulinos, não deveríamos estranhar. Minha geração foi criada no rigor, esmagando geada. Quando trabalhei nas fazendas eu saltava cedo. Mal se via a cabeça dos matungos e já era hora de enfrená-los pra o aparte, banho ou campereada.

Naqueles invernos não tinha de aula, brinquedos, passeios... Era serviço e serviço! E quem conseguia colégio nalgum vilarejo, ia a cavalo ou a pé. Nada de ônibus na frente de casa. Quando alguém ficava gripado, sarava na base da chapoeirada, gemada, cama e abafamento. A vida era assim e ai de quem reclamasse.

Hoje a geração é melhor servida, apesar das dificuldades que muitos ainda têm. O campo é quase cidade. Tanto é verdade que nem um peão campeiro se acha. Todos querem o conforto das casas, internet, trago e balada. Cousa boa! Também gosto!

O engraçado é que sempre reclamamos. Não somos capazes nem de nos agasalharmos bem. Não tomamos sucos naturais ou comemos sequer as frutas da época. Aquelas cheias de vitaminas c que tem a loléo. Não evitamos noites maldormidas nem nos alimentamos direito. Aí, quando vem a gripe, cadê a vacina? Cadê os leitos do hospital, os médicos? E dê-lhe reclames.
* (Jornalista e professor)

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