segunda-feira, 1 de maio de 2017

O vendedor de saco

(João Lemes) Como hoje é o Dia do Trabalho, resolvi dizer o quanto é bom ser brasileiro e admitir que andamos muito apesar de a nossa democracia ter nascido em meio à corrupção. Mas isso não é motivo para viver dizendo que no passado as coisas eram melhores. Melhor não eram! O brasileiro sabia viver com bem menos, essa que é a verdade. Eu mesmo, pra bem de poder ler uma revistinha era preciso ir para baixo da luz de um poste. 

Só pra se ter uma ideia, trabalhei desde os 11 porém a abençoada carteira só foi assinada aos 18.  Como sabem, fui criado por uma tia "bem madrasta". Além das tundas e dos castigos, eu tinha que trabalhar duro cortando lenha, na limpeza da casa, do pátio e ainda era preciso arrancar tiririca numa lavourinha de milho. Mas aquele trabalho era doce comparado ao “serviço de rua”, que nada mais era que vender saquinhos plásticos de supermercados (não existia sacolinhas plásticas).

A tia Otelina não jogava os sacos nas sarjetas como hoje. “Se agachava” a juntar e me fazia percorrer açougues para vendê-los a troco de carne. Mas não era carne, carne... era por ossos. Ela brigava comigo se eles não fossem carnudos, que dessem para outra descarnada para os molhos das refeições.
Quando a tia estava abastecida de "víveres", a venda dos sacos era para manter o vício do cigarro do meu tio. É que a tia não podia vê-lo "seco". Ele ficava emburrado, ela ficava entristecida e, eu - saco de pancadas das suas angústias - ficava machucado caso não tivesse sucesso na venda.

Então, mudou ou não mudou? Você precisa vender sacos hoje? Sei que falta muito para que o trabalhador tenha mais dignidade, mas não me venha dizer que no passado era melhor porque não era. Não era mesmo!

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