sexta-feira, 28 de agosto de 2009

20 Anos de Jornalismo



Os desafios a dois

Logo que casamos, surgiram os primeiros desafios da vida a dois. Amor não faltava. O que não tínhamos era traquejo suficiente para fazer de um rapaz de 23 anos e de uma menina de 17, gente capaz de suportar as peripécias do lar e, principalmente, as falhas um do outro. Não sabíamos bem ao certo o que era ser um casal. Ciúme não havia. Falo daquele ciúme doentio, sabem? Só que eu era um cara mal-acostumado.

Na casa de minha mãe eu não juntava nem as cuecas do piso do banheiro e, agora, a esposa não queria fazer o serviço que minha querida irmã, a Anilda (Alemoa) fazia. Toda a hora, a Suzana reclamava disso ou daquilo. Se eu andasse dentro de casa, lá ia ela atrás para ver se eu não deixaria uma roupa fora do lugar. Um simples cabelo no box era o estopim para uma guerra sem precedentes.

Mas a vida nos apartamentos, ou no pombal, até que era boa. O apartamento era dividido em cozinha, salas de estar e de jantar, dois quartos e uma área de serviço. Tudo pequeno, lógico, mas para recém-casado, estava ótimo! Até porque, nem dava para reclamar muito, pois morar ali não nos custou nada. Assim, sem pagar aluguel - eram raros os pagantes entre os moradores de uns 800 apartamentos -, ficamos três anos até irmos embora para Tupanciretã, quando apareceu a oportunidade de coordenar o jornal do meu amigo Renato César de Carvalho, o popular Pelica.

Mas antes de sairmos do dito pombal ou "Apes", fomos surpreendidos pela falta de quase todos os móveis da casa. Os donos (eles eram emprestados) regressaram para Cruz Alta e foram buscá-los. Que estrupício! A Suzana ficou desconsolada, tendo em vista que ainda não havíamos comprado os nossos móveis.


Estávamos diante do primeiro desafio a dois. Enfrentar aquela situação na presença dos vizinhos que se juntaram para ver a quem ficamos devendo, originando a retirada dos móveis. Olhava para a Su, era só lágrimas em seu rosto. Também pudera. Ficamos só com a cama, roupeiro, fogão e algumas cadeiras. Parte das coisas, tais como panelas, pratos, foi parar no assoalho.
Menos mal que eu tinha um dinheirinho guardado ainda da indenização do tempo da leitura.


Juntei mais um pouco com meu cunhado, o Emir Moreira (Maninho), outro grande amigo, e já deu para repor alguma coisa. Balcões, cristaleiras... A Su continuava chateada, afinal, não deve haver nada mais humilhante que uma dona-de-casa perder parte dos móveis, mas foi preciso devolver tudo. Não eram nossos. Desde aquela data, jurei para mim mesmo: hei de comprar tudo do bom e do melhor para a Suzana ter uma vida digna, tal qual ela teve na casa de seus pais.

Aqueles pensamentos me trouxeram à mente as horas em que atuava na leitura de energia, chegando de casa em casa e vendo os tipos de moradias. Suntuosas, algumas bem pobres. Pensava que nunca teríamos uma casa que fosse nossa, nem tanto por mim, mas pela Suzana e pelo Fagner. Entretanto, como farei para comprá-la? Com salário mínimo era quase impossível. Estudo acadêmico eu não tinha, profissão, também não... Qual o jeito? Talvez o destino tivesse uma explicação. Tinha que ter.

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